quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Círculo

Quando ama, deseja
Quando deseja, afasta
Quando afasta, aproxima
Quando aproxima, corrompe
Quando corrompe, trai
Quando trai, destrói                   
Quando destrói, sofre
Quando sofre, exaure
Quando exaure, esgota
Quando esgota, acaba
Quando acaba, recomeça
O amor é uma selvageria

Des(conexões)

Expelir, descartar, trocar
Vínculos, relações, desejos
Frágeis, voláteis, conflitantes
Prazer, tesão, tensão
Redes errantes
Liberdade forçada
Individualizada
Medos incertos
Rompimentos
Inquietos
Tão longe tão perto
Reviravoltas revoltas
Desengajamento
Dor sem dor, incolor
Múltiplas sedes
Rotas, intactas
Virtualidade
Quantidade
Fragilidade
Atitude, incompletude
Velocidade ou verdade?
Vaidade
Sexo desconexo
Descompromisso
Submisso
Atração repulsão
Em equilíbrio
Desequilíbrio
Fendas
Rachaduras
Fragmentos
Profundos
Superficiais
Artificiais
Acasos em versos
Crônicas banais
Cortes rasos, secos
Vívidos, cíclicos, líquidos
Consumos humanos
Insumos urbanos
Sangue no ar
Morte fugaz
Imensidão

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Um rua

Sou uma
Rua
Sem volta
Um caminho
Sem saída
Até sua pele
Nua

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Valor

A vida vale
um amor
O amor vale
uma vida

Ausência

A manhã escurece
A tarde se esquece
A noite é tão longe

Percurso

Nasci na madrugada
Cresci por toda parte
Mudei a cada instante
Troquei de cidades
Identidades
Procurei o amor
Conheci a dor
E o prazer
De esquecer
Fui de tudo quase
Nada de quase tudo
Antes de começar
Insisti em desistir
Desperdicei
Patrimônio
Renda
Pessoas
Não retive nada
Cheguei a lugar nenhum
Deixei o tempo pra trás
Voltei ao início
Não encontrei o fim
Recomecei o futuro
Renasci na madrugada

Agora

O dia, a noite, uma hora
Será cedo, tarde, será quando?
Faz frio, faz chuva, faz sol, faz tempo
Silêncio, barulho, ruído, estou mudo
É claro, cinza, dourado, escuro
Está longe, perto, é nunca, será depois?
A hora, de novo, martela, espera
É agora e de lá ou de onde
Sinto a sua respiração, aqui

Beatriz

Você me olhou
A primeira vez
E não tirou os olhos
De mim, sem parar
Quis te segurar
Meu coração disparou
Naquele instante
Tão pequena, tão linda
Nada nunca foi tão meu
Como naquele instante
Nunca mais foi nada igual
Porque você nascia
E desde aquela hora
Era para sempre
A minha Beatriz

sábado, 25 de setembro de 2010

As mulheres

Fui criado por mulheres. As mulheres me deram tudo. Carregaram-me no ventre. Sofreram as dores do parto. Ensinaram-me a andar. Falar, ler e escrever. Fizeram minha comida. Arrumaram minha cama. Pregaram meus botões. Pentearam meu cabelo. Passaram minha roupa. Contaram histórias. Faziam-me dormir. Mostraram-me a beleza. A literatura, a poesia, a música. Deram seus amores. Partilharam suas dores, seus temores, suas camas. Ofereceram seus sorrisos. Acolheram meu corpo. Entregaram seus corpos. Gestaram meus filhos, em seus ventres. Criaram meus filhos, em suas casas. Deram-me seus próprios filhos, mesmo quando não eram meus. Abriram seus espaços. Confiaram suas vidas. Suportaram minhas ausências. Toleraram minha presença. Ficaram sempre ao meu lado. Pediram tão pouco em troca. E eu me dei inteiro. E eu dei quase nada.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Sons da primavera

Lua leve
Leva em si
A longe luz
De lá do sol

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

Restos de nós

De toda a espera, quimera
De todas as horas, demoras
De todos os tempos, inventos
Em tudo que corre, escorre
Sempre depois, restos de dois
De tudo que resta, só uma sombra
Sobra sem voz, do pouco de nós

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Dias de inverno

De manhã
Faz frio
À tarde
Faz vento
É noite
Faz tempo

domingo, 12 de setembro de 2010

tarde

à procura
da noite escura
não há mais cura
tardo a chegar
tão devagar
e só, então
anoitecer

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

Dois corpos

Quase parado
um corpo acolhe
outro corpo na pele
como se fosse seu porto
e esse outro corpo exposto
navega até seu destino
em suave desatino
desconcertado
para, silencia
só respira.

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