terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

alívio

afinal não era amor
seria mais terno
infinito e eterno
se fosse amor
talvez

sábado, 20 de fevereiro de 2010

Consumidos

Funcionários descartáveis
Supérfluos, intercambiáveis
Substituíveis por sistemas
Só continuam empregados
Por salários trocados
Pelas horas trabalhadas
Para adquirir os produtos
Produzidos nas corporações
Que com suas ações louváveis
Empregam milhões de pessoas
Que pagam os preços
Com seus baixos salários
Já embutidos
Na margem
De lucro bruto
Com as horas de serviço
Trocadas por mercadorias
Igualmente supérfluas
Escambo de vida por consumo
Antropofagia estéril
Em negócio atrativo
Socialmente responsável
Conscientemente sustentado
As corporações agradecem
Pelos excedentes
Que crescem e enriquecem
Seus dirigentes e presidentes
Aumentando as externalidades
E há sempre quem compre
Mais e mais produtos
Que logo viram lixo
Quase sempre não reciclado
Mas o planeta impassível
Absorve os dejetos, se adapta
Enquanto a humanidade
Insanamente humana
Consome a si mesma
Pouco a pouco
Até a extinção

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

salto

só me resta saltar
como um suicida
na vida...

segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

A tua ação

Corpos
Pulsantes
Entregues
Sem trégua
Na travessia
Do caminho
Invisível
De estar pronto
Todo dia
Dia a dia
Solidão revelada
Coletiva, inventiva
Pernas fincadas
Olhares focados
Nas mil faces
De um a um
Por si e só
Unidos
Na loucura
De ser e estar
Na jornada
Sem fim
A hora é aqui
No espaço
De agora
Pulsa a ação
A tua
Ação
De cada um
Em todos nós

sexta-feira, 12 de fevereiro de 2010

Percepção

Já não me olha mais
Nem me percebe mais
Enquanto se esquiva
Escrevo à deriva

quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010

Diversidade


















Hoje à noite há uma festa
Pode ser São Paulo, Paris ou Nova Iorque
Música, comida, vinhos, objetos, pessoas

No aparelho de som, uma salsa
Na sala de visita, nenhum caribenho

Na mesa de jantar, frango tandoori
Na sala de visita, nenhum indiano

Na escrivaninha, uma escultura nigeriana
Na sala de visita, nenhum africano

Nas paredes, pinturas primitivas
Na sala de visita, nenhum indígena

Na TV de plasma, filme de Kiarostami
Na sala de visita, nenhum iraniano

Nos corpos, grifes fabricadas em Jacarta
Na sala de visita, nenhum indonésio

Na sala de visita todos são cultos,
poliglotas, progressistas, cosmopolitas,
irreverentes, inteligentes, sofisticados,
influentes, afluentes, libertários, originais

Na sala de visita todos são despojadamente iguais

Falta

Longe do perto
A espera de ontem
Na ausência de hoje
Relembrando amanhã
Distante de agora
A procura da hora
Demora...

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